21 de julho de 2010

Voando, filmando e batendo um papo com Wookies

Ultimamente andei trabalhando no meu média metragem (pois curta não dá pra ser, já passou dos 30 minutos) com o Erik, meu amigo holandês (causador de toda essa bagaça).

Pra quem não sabe, eu faço curtas metragens de vez em quando e agora estou fazendo o mais difícil que nossas cabeças doentias já conseguiram cozinhar. Mas isso ficar pra um próximo post, quando um trailer decente deverá estar pronto.

Quando eu tinha uns 7 anos, no Natal, meu pai decidiu me dar um "jogo" (não é jogo, mas vamos levar assim...) chamado Flight Simulator. É um simulador de vôo praticamente profissional pra quem gosta da coisa. Alguns anos mais tarde a internet se expandiu no mundo e era possível "voar" pelo simulador online, com outros "pilotos" por ai. É como se fosse um mundo virtual onde você voa pra lá e pra cá com seu Boeing e o tráfego aéreo desse mundo são pessoas de verdade, pilotando cada um em sua casa. Foi ai que eu conheci um cara doido por aviação também, chamado Thiago, que gostava de passar horas "voando", assim como eu.

Um dia decidimos que queríamos construir um avião em 3D para voar no simulador, mas não conhecíamos muito sobre o assunto, então Thiago deu um google pra cá e pra lá e, em um fórum sobre modelagem em 3D, conheceu um cara chamado Erik, da Holanda, muito disposto a ajudar. Por tabela, acabei adicionando o Erik no meu MSN também e fomos conversando.

Nunca modelamos um avião em 3D.

Os anos passaram e eu comecei a fazer curtas metragens. Fiz uma versão de fã de Star Wars (trailer), ainda no colegial. E pra quem conhece Star Wars, sabe que é um filme que necessita de 3D pra ficar mais "real". Entra Erik.

Fizemos um, dois, quatro, seis "filmes" juntos, sempre trocando aquelas informações sobre nossos países:

Bruno: Você acha que eu moro no meio de uma floresta, né?
Erik: Não necessariamente...
Bruno: Ok, mas você não tem certeza se tem rua asfaltada aqui...
Erik: Hum... é...
Bruno: E cobras e aranhas andando pela rua...
Erik: Bom... não aranhas...

Ah, a Terra do Nunca dos holandeses aquém de qualquer outro mundinho. Anyway...

Ao fazer outro filme (que nunca foi lançado pois Mark, um amigo nosso na época, decidiu que ia virar prostituta profissional e não quis mais fazer filmes) eu precisava de gritos femininos para uma cena. Apenas a gravação do som dos gritos de uma mulher, que eu editaria sobre o filme depois.

Ao comentar sobre isso com o holandês, ele me diz que tem uma amiga que talvez seja doida o bastante pra gravar isso pra mim. Imagine a cena, você sentado numa cadeira, uma câmera na sua cara e você gritando como um desesperado.

Então ele me apresenta para sua amiga louca, Ellen. E aí que começou a coisa toda.

Depois de anos conversando com os dois branquelos, eu decidi que queria conhecer a Holanda e vim para cá a primeira vez em 2008, dezembro, inverno, frio.

E Ellen morava na época a 10 km de Nijmegen. Mas 10 km de Nijmegen, dependendo da direção que você vai, pode significar que você chegou na Alemanha. E esse era o caso. Ela morava na fronteira Holanda/Alemanha e cruzava a fronteira todo dia pra ir pra faculdade. Não era incomum no MSN você ler:

Ellen: Hoje eu vou pra Holanda de manha, mas volto pra Alemanha de noite. Amanhã vou pra Holanda e fico por lá uns 2 dias.
Bruno: Ok... hoje eu vou pra Vila Mariana... amanhã pra Pinheiros...

Contece...

Ao chegar aqui, nos 3 primeiros dias, eu, como todo cidadão, ia ao banheiro e por lá deixava o que não mais me servia.

Já me perturbou que a privada deles aqui não é igual à nossa: ela tem uma espécie de "degrau"antes do buraco, mas o degrau fica sem água, então qualquer coisa que cair ali ficará "in natura", se você me entende, e só cairá na água após a descarga. Ter nojo é para os fracos.

Tudo bem, terminei, faço o uso do papel higiênico e, como 98% dos brasileiros, taco o papel no cestinho.

Já entendeu ou ainda não?

Depois de 3 dias, fomos para a Holanda (em minha cabeça: "uau, acordei na Alemanha e almocei na Holanda..."), na casa dos pais dela. Ficamos 2 dias. Fui ao banheiro duas vezes.

Ótimo.

Voltamos pra Alemanha. Sentei no computador e a Ellen sumiu lá pra dentro. 10 minutos...

Ela surge na porta com uma cara desconsertada.

Ellen: Bruno...
Bruno: Yes?
Ellen: O que aconteceu no banheiro?
Bruno: Não sei, por quê?
Ellen: No cesto... você que fez aquilo?
(Mil coisas passando pela minha cabeça, exceto o que ela esperava que eu pensasse)
Bruno: Eeer... aquilo o quê?
Ellen: Alguém jogou papel sujo no cesto... foi você?

Oh-oh.

Bruno: Vocês não jogam no cesto?
Ellen: Não. No vaso.
Bruno: Hum... pra que tem o cesto então?
Ellen: Pra jogar o tubo de papelão quando o rolo acaba.

AAAH! Claro!

Bruno: Ellen...
Ellen: Hum?
Bruno: Sabe... eu caguei na casa dos seus pais...

Belo começo de jornada com os sogrinhos... até hoje não sei o que deu quando eles viram aquilo... mas como ainda sou bem aceito por aqui... prefiro não pensar...

Agora quando ela vai pro Brasil a gente lembra ela de jogar no cestinho toda vez.

Fico imaginando o que mais eu não fiz de errado por aqui que passou pois eles tentam ser educados o tempo todo.

A primeira vez que visitei (formalmente) uma casa de locais for exatamente os pais dela, logo em 2008. Entrei, falei oi. Ela explicou que eu não falava holandês. Eu tentei falar. Não deu certo. O pai dela, que nunca deve ter falando inglês mais que alguns minutos antes, tinha que falar o tempo todo agora. Perguntava tudo sobre o Brasil. Tudo magavilha.

Pai: Entón focê fem do Brazil, eh? Defe estar muita frrio aqui prra focê.
Bruno: Ja, ja.

A mãe dela não fala inglês nem por decreto, então antes de eu entender holandês, a Ellen tinha que servir de tradutora oficial.

Mãe: Bruno, wil je je jas uitdoen?
Ellen: Você não quer tirar a blusa?
(dentro de casa o aquecimento sempre deixa as coisas a 25 graus)
Bruno: Ah, não. Tá tudo bem.

Convenhamos, ninguém tira a jaqueta quando chega na casa dos outros... no Brasil...

5 minutos passam.

Mãe: Ellen, wil Bruno zijn jas echt niet uitdoen?
Ellen: Você não quer mesmo tirar sua jaqueta?
Bruno: Não, não precisa...

Duas vezes...

Mais 5 minutos...

Pai: Focê pode pendurrar seu jaqueta perto do porrta se quiserr...

Desisto... vou lá e tiro a jaqueta....

Na primeira oportunidade, puxo a Ellen de canto.

Bruno: Tem merda espalhada na minha jaqueta e só eu não percebi ou tem algum símbolo nazista nas minhas costas?
Ellen: Não... quando você chega na casa de alguém, você TEM que tirar a jaqueta, senão parece que você que ir embora logo...

...

...

Ok.

Agora você me diga, o que mais eu fiz de errado por aqui sem perceber?

Acho que metade da Holanda deve estar ofendida comigo por algum motivo do tipo "você não agradeceu pelo copo da água anteontem.

Agora a comunicação com a sogrinha já melhorou, pois já entendo tudo que ela diz (apesar de ela achar que a velha regra de "se ele for estrangeiro, fale alto, muito alto" funciona) e já consigo dizer quase tudo, também. Mas ela ainda se recusa a falar inglês, apesar de entender.

Então quando não sei falar alguma coisa, taco o inglês nela. Mas por sorte ela não entende algumas coisas.

Sogra: Wil je iets drinken, Brrruno?
Eu: Ja, een biertje is goed, alstublieft.
Sogra: Oke, ik pak het voor jou.
Eu: Ja, dankje.

Agora eu quero falar algo que não sei, então mudo pro inglês.

Bruno: Mas a garrafa eu coloco lá fora ou perto do lixo depois que beber?
Sogra: Ja, in de schuur is goed. IN DE SCHUUR IS GOED. DE SCHUUR.
Bruno: Tá bom, Chewie. Eu coloco no schuur depois.

E vamos levando...

2 comentários:

Unknown disse...

Hã??!!!???

Rafael G. Esteque disse...

HUAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
A minha favorita das suas histórias da Holanda...