8 de julho de 2010

Money que é good nóis num have

Já ouviu falar que dinheiro traz dinheiro, né?


Bom, então pra ganhar dinheiro você precisa arrecadar dinheiro, que vai te ajudar a ganhar mais dinheiro...


Hã?


Bom, essa é quase a fórmula matemática da mesquinharia. E aqui o bicho pega.


O bicho só pega mesmo quando eu to sozinho por ai... com a Ellen do lado fica mais fácil, pois ela já sabe o que vai me irritar ou me fazer falar “mas que caralho?”. Então ela me avisa de antemão das holandesisses que estão prestes a me dar o bote.


Mas é sempre legal ir na Cafetaria Braulio (belo nome) do outro lado da rua. Sozinho, com a carteira e repassando o texto que eu vou ter que recitar ao chegar lá.


Cafetaria aqui não tem nada a ver com café. Nem com maconha, se você pensou nisso. Maconha é nos Coffee Shops. Cafetaria é uma lanchonete onde você compra frituras de todo tipo, desde batata frita até fricandel (vai pro Google) com curry, maionese e cebola.


Em outras palavras, um local saudável.


Mas o Braulio (amém!) abriu sua cafetaria em Angeren, uma dorpje (vilazinha) com 2000 habitantes entre as “cidades grandes” de Arnhem e Nijmegen (as duas juntas são menores que a Lapa + Pinheiros).


Ou seja, quem vai comer no Braulio? Quem mora em Angeren. Chegar até aqui só pra comer no Braulio, é melhor você ir pra grande metrópolis de Nijmegen e comer por lá.


Então entro eu na cafetaria e lá está Braulio sozinho esperando alguém. Já ouço um sonoro “hooooi!!” holandês e então ele fica esperando pra ver se hoje eu quero falar em holandês ou inglês (depende do meu humor).


Geralmente eu escolho holandês pois Braulio não tem o melhor dos ingleses. Mas fricandel com curry e maionese só é bom de vez em quando.


  • Hallo. Hoje eu quero algo que não experimentei ainda.
  • Ja, ok. Dá uma olhada na tabela e peça.


Como eu não conheço todos os nomes de tudo o que eles comem por aqui, decidi jogar de maneira segura e não pedir nada que eu não pudesse traduzir ao menos para o inglês.


Fricandel ... 1,60

Fricandel Speciaal ... 2,40 (com curry e maionese)

Broodje Fricandel ... 2,20


Broodje antes de qualquer outra palavra em holandês significa “sanduíche de”. Ou seja, um fricandel enfiado dentro de um pão. Magavilha! Desce um, Braulio!!


Passados 4 minutos, que é o tempo estipulado (provavelmente por leis federais, estaduais e matrimoniais) para a fritura do fricandel, Braulio se abaixa para pegar o pão. Que para meu completo desgosto era o que a gente, no Brasil, chama de pão de hamburguer de padaria. O mesmo formato e tamanho, a casa mole, sem gergelim. Uma bisnaguinha Seven Boys redonda.


Fudeu, né? Tudo bem, eu separo os 2,20 e espero ele me entragar o banquete.


  • Vai querer algum condimento no lanche?


Bom, piorar não dá, né...


  • O quê que vai, geralmente?
  • Pode ser maionese ou curry.
  • Pode ser maionese, então.


Braulio se vira sistematicamente pra bisnaga de maionese e coloca não mais do que uma colher de sopa de maionese.


  • São 2,40, por favor.


Eu olho pra tabela. Olho pra ele. Olho pra tabela.


  • O Broodje Fricandel não é 2,20?
  • Ah, sim.


Meu holandês não pode ser ruim a esse ponto.


  • Você disse 2,40?
  • Sim. Você pediu com maionese, né?


Silêncio recaiu sobre a Cafetaria Braulio.


  • Huum... ja.


E aqui volvemos à mesquinharia. Não que Braulio seja uma má pessoa. Ele é muito legal, tirou um sarro de mim quando o Brasil foi eliminado, maravilha.


Mas, porra, nem o Fasano deve cobrar quase 1 real por uma colher de sopa de maionese. Mas na Holanda é assim. Você quer, você paga.


Não que esteja errado. 20 centavos não vão fazer falta pra mim, muito menos para um holandês. Mas a raiz disso é profunda.


A holanda hoje tem o 16° PIB do mundo enquanto o Brasil tem o 8°. Só que tem também um território 50 vezes menor, uma população de 16 milhões contra quase 200 milhões do Brasil. E a Holanda não tem o Lula, um motivo para qualquer país se gabar.


Mas por aí dá pra ver pra onde vai a distribuição dessa grana toda. O povo tem dinheiro aqui. O pobre holandês é aquele cara que não consegue comprar uma TV nova. Se você pensar no pobre brasileiro que não consegue comprar feijão, tá muito bom, né não? Eles não se importam de pagar esses 20 centavos pela (pouca) maionese. Mas no supermercado, eles são capazes de escolher um produto muito inferior para no final das contas a diferença ser esses mesmo 20 centavos. Digamos que é um povo paradoxal.


Dinheiro, já deu pra ver, não é problema aqui. É coisa séria, se toma cuidado. Mas não falta. E com pouco esforço. O pobre holandês, em geral, é pobre porque quer. Ele não compra uma TV pois não quer uma. O país dá todo o suporte que ele precisa pra comprar 8 TV’s com dinheiro público e pagar dali a dez anos.


Quando você fica desempregado, o governo paga um seguro desemprego que não é de se jogar fora, quase faz inveja ao Bolsa Família do Lula. Mas o governo só vai pagar esse seguro até você arrumar um emprego.


Mas você, brasileiro que está lendo isso, tem em sua cultura ser filho da puta por natureza e pensou “então eu não trabalho e fico recebendo, é isso?”. Bom, no Brasil, mexendo uns pauzinhos, conhecendo alguém aqui e ali, seria. Mas aqui tem um orgão do governo com pessoas especializadas em arrumarem emprego para você. Não dá seis meses e eles te arrumam um emprego.


E agora?


Agora vai trabaiá.


Se não for, seu benefício vai pro brejo. E o povo vai. Mesmo. Como eu sei? Nunca vi favela aqui ou gente pedindo esmola.


Tem gente pobre, tem gente boa, tem gente ruim, tem gente humilde, fresca, esnobe, legal, chata. Mas não necessitada. Você vai trabalhar e o mínimo que o país te garante é o médico no hospital e a comida na mesa.


Não acho o Brasil um país ruim. Adoro o Brasil. Adoro o jeito que se vive lá. Mas o que se mais ouve em campanha política é o que menos tem: sustentabilidade.


No Brasil, todos, exceto os podres de rico, estão pendurados numa corda e lá em baixo tá cheio de jacaré com fome. A Holanda te dá pelo menos uma rede protetora antes dos jacarés.


O Brasil tem condições de fazer isso pra todo mundo? Não. Provavelmente, não.


Mas que dava pra ser bem melhor, não há dúvidas. Mas Brasil é o país dos espertos, do mata-mata e da sacanagem. Tá crescendo aos olhos do mundo. Até aí, a China também está. Me diga se você quer morar lá.

Um comentário:

vcdarcie disse...

Pois eh, aqui se paga tudo. Ate pra usar o banheiro (seja no shopping, mc donalds, estacao de trem, etc), estacionamento (aqui em Den Bosch ate de domingo), e por ai vai...